Afinal, o que é Filologia no Brasil?
Sentidos, Práticas e Institucionalização no Século XXI
DOI:
https://doi.org/10.24206/lh.v11i2.68347Palavras-chave:
Filologia, Crítica Textual, Edição de textos, Institucionalização, BrasilResumo
Este artigo discute a configuração atual da Filologia e da Crítica Textual no Brasil, desde o início do século XXI, analisando sua delimitação enquanto campo científico e sua prática nos programas de pós-graduação. Partindo da polissemia do termo "Filologia" — que oscila entre um sentido amplo e um sentido estrito —, examina-se como universidades brasileiras têm organizado pesquisas nessa área e como têm escolhido desambiguar o termo. A análise revela desafios institucionais, como a ausência da Filologia como subárea formal na tabela CAPES e sua dispersão entre programas de Letras e Linguística. Argumenta-se que, embora a Filologia stricto sensu mantenha diálogos com a História e a Linguística, seu núcleo metodológico reside na edição fidedigna de textos, distanciando-se de noções ultrapassadas, como a "função transcendente" da Filologia. Para a construção da discussão, valho-me de reflexões realizadas por Bourdieu (1983) acerca da noção de campo científico. Por fim, o texto defende a consolidação da Filologia como disciplina autônoma, articulada a demandas contemporâneas, como a curadoria de textos que permitam trazer perspectivas contra-hegemônicas, antirracistas e feministas.
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