A chaga e o fármaco

Relativismo e perspectivismo em Merleau-Ponty e Viveiros de Castro

Autores

DOI:

https://doi.org/10.59488/tragica.v18i2.68134

Palavras-chave:

perspectiva, perspectivismo, relativismo, multiplicidade

Resumo

O mundo e o conhecimento revelados a partir de uma única perspectiva – por se pressupor uma multiplicidade de pontos de vista – é frequentemente cotejado enquanto um “perigoso” relativismo. No presente artigo, quer-se mostrar que, embora o perspectivismo em Merleau-Ponty seja fundamentalmente distinto do perspectivismo ameríndio de Viveiros de Castro, sobretudo porque oriundos de campos do conhecimento distintos, uma comparação entre ambos no que diz respeito às relações que mantêm com o relativismo não devolve um som oco. Para tanto, primeiramente, será proposta uma “perspectiva” do conceito de perspectiva, uma trajetória do conceito que passa por Merleau-Ponty até chegar ao perspectivismo de Gilles Deleuze, influência teórica com a qual Viveiros de Castro, junto às próprias referências etnográficas que são repertório da disciplina de Antropologia Cultural, fundou o conceito de perspectivismo ameríndio. Na sequência, será demonstrado que a noção de multiplicidade em ambos os autores é a chave para se compreender que, ainda que ambos os perspectivismos não sejam relativismos, eles mantêm estreita relação com a relatividade, isto é, com o primado da relação que se faz no seio da diferença.

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Biografia do Autor

Joao Paulo Undiciatti Barbieri, UFSCAR

Graduação em Ciências Econômicas pela Universidade de São Paulo - USP (2011) e mestrado em Antropologia Social pelo Programa de Pós-graduação em Antropologia Social da Universidade Federal do Amazonas - UFAM (2018), com ênfase em etnologia indígena, socioespacialidade e indigenização da modernidade. Atualmente (desde 2024), é doutorando em Filosofia pelo Programa de Pós-Graduação em Filosofia - PPGFil da UFSCAR. (orientação: prof. Silene Torres Marques)

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Publicado

2025-07-21

Edição

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Artigos