Heranças infamiliares: com alguma distância e um chão debaixo dos pés
DOI :
https://doi.org/10.35520/diadorim.2025.v27n1a67345Résumé
Desde Freud, em seu célebre texto “O Infamiliar” (2019), a literatura e a psicanálise encontram-se num limiar quanto ao material de seu trabalho, ainda que operem em diferentes estratificações da vida anímica. O infamiliar remonta ao que é “há muito íntimo”, sobredeterminando os sentidos do que há tempos é familiar e, ainda, acrescentando a dimensão de um excesso, do que há em demasia e ultrapassa o pouco familiar. A partir dessa palavra-conceito freudiana, o presente trabalho busca pensar as ressonâncias entre a familiaridade e a estranheza em torno da questão da herança em três poemas de escritoras brasileiras. Para tal, sublinham-se três questões a partir do texto freudiano: a primeira é a própria língua, lugar que provoca essa cisão entre casa e estranheza, entre língua-mãe e estrangeira; a segunda, o que deriva das fontes infantis em torno do Édipo e da castração em seus desdobramentos e modulações, enfatizando a questão do duplo e sua defesa contra o aniquilamento por meio da figuração da linguagem onírica e poética; e, por fim, o fator da repetição involuntária, segundo o qual até um elemento inofensivo pode tornar-se infamiliar, impondo-nos a ideia de um inescapável destino.
Contudo, em torno da língua, do duplo e da repetição involuntária, numa leitura cruzada dos poemas “Minha primeira barata”, de Danielle Magalhães, “Herança”, de Bruna Mitrano, e “Carrie”, de Mariana Godoy, percorreremos, em suas escritas, a dimensão da repetição familiar, da qual se herda, se identifica e, muitas vezes, perdura a ideia do fatídico. Frente à inescapável repetição, interessa-nos, ainda, ler nos poemas as saídas possíveis e os procedimentos desenvolvidos contra a herança familiar, como forma de proceder uma vingança, uma distância e um outro modo de se situar, tendo um chão sob os pés.
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