REDEMOCRATIZAÇÃO, JUSTIÇA DE TRANSIÇÃO E COMISSÕES DA VERDADE: LIMITES E ALCANCES DAS POLÍTICAS DE MEMÓRIA E DE RESPONSABILIZAÇÃO LUSO-BRASILEIRAS

Autores

Resumo

Este artigo busca analisar comparativamente o processo de justiça de transição em Portugal e no Brasil. Partindo de um debate historiográfico, esse texto discute primeiramente algumas perspectivas teóricas sobre transitologia, Justiça de Transição e comissões da verdade. A partir dessas ideias, parte-se para o debate do caso português, focando no processo de democratização ocorrido a partir da Revolução dos Cravos e da atuação da Junta de Salvação Nacional, bem como debate as comissões que investigaram e puniram os crimes cometidos pelo salazarismo. Em seguida, analisa-se a construção de políticas de memória e verdade no Brasil, a Lei da Anistia que inviabiliza as punições penais, a efetivação e o legado da Comissão Nacional da Verdade, que teve por objetivo investigar e esclarecer as violações de direitos humanos praticadas pelo Estado brasileiro (1946-1979). Por fim, busca-se elencar proximidades e afastamentos entre os casos Justiça de Transição em Portugal e no Brasil, os quais, a princípio são muito distantes, mas com a consolidação democrática efetivaram processos parecidos de silenciamento e esquecimento.

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Biografia do Autor

Lidiane Elizabete Friderichs, Universidade Estadual do Maranhão (UEMA)

Professora colaboradora do Departamento de História e do Programa de Pós-Graduação em História da UEMA. Pós-doutoranda na Universidade Estadual do Maranhão (UEMA), com financiamento do CNPq/FAPEMA. Doutora em História pela Unisinos. Desenvolve pesquisas nos seguintes temas: ditadura civil-militar de 1964, movimento operário/sindical, redemocratização, Nova República, Think Tanks, Neoliberalismo, Direitas e Ensino de História. 

Monica Piccolo, Universidade Estadual do Maranhão (UEMA)

Graduada em História (1991) e mestre em História Social (1997) pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Doutora em História pela Universidade Federal Fluminense (2010). Atualmente é professora do Departamento de História e Geografia da Universidade Estadual do Maranhão, Coordenadora do Mestrado História, Ensino e Narrativas (PPGHEN/UEMA) e professora vinculada ao Programa de Pós-Graduação e Desenvolvimento Socioespecial e Regional da mesma Universidade. . É coordenadora do Núcleo de Pesquisa em História Contemporânea (NUPEHIC) e membro fundadora do INCT Proprietas. Coordenadora Geral do IECT Gestão Pública e Economia Criativa. Tem experiência na área de História, com ênfase em História do Brasil República, atuando principalmente nos seguintes temas: história econômica, história política, ditadura civil-militar e processo eleitoral

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Publicado

06/10/2025

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Artigos