Fausto Reinaga e Intelectuais Negros: Entrecruzos anticoloniais para uma epistemologia racializada
Résumé
Fausto Reinaga (1904-1996) é um intelectual ch’xi que reinvidica um lugar de
enunciação desde o altiplano andino quechuaymara e que pode ser considerado como um dos principais ideólogos do indianismo, corrente política e filosófica que inspira inúmeros movimentos indígenas na Bolívia a partir dos anos 1970 e 1980. No impulso dos movimentos anticoloniais da segunda metade do século XX se forja também no seio dos movimentos indígenas uma epistemologia racializada das lutas que destitui a Europa Moderna de seu lugar de transparência e de pretensão universalista em prol de perspectivas outras e porvires outros que deslocam o centro das reflexões para sujeitos subalternizados pela ordem moderna-colonial.
Para os fins deste trabalho, destaca-se em particular de que maneira Reinaga, ao formular sua tese indianista, inspira-se e se apropria de muitos aspectos lançados direta e indiretamente por vários intelectuais negros que, do mesmo modo, partiram da questão racial para refletir as bases que estruturam a modernidade ocidental, bem como os caminhos para sua de(s)colonização e superação. Refletir sobre os entrecruzos existentes entre o pensamento de Reinaga e os movimentos de negritude dos anos 1930 e 1940 com Aimé e Suzanne Cesáire, por exemplo, passando por suas citações mais diretas em torno da perspectiva anticolonial de Frantz Fanon e do Poder Negro de Stokely Carmichael e Charles V
Hamilton - esses últimos já na década de 1960 - pode ser um caminho profícuo para refletir de que modo essa epistemologia racializada pode contribuir também para de(s)colonização do pensamento de forma mais ampla.
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